A premissa da Internet das Coisas (IoT) sempre foi a criação de uma rede de dispositivos conectados entre si e a trocarem informação, permitindo automatizar inúmeros processos. Mas faltava uma componente essencial para tornar possível a tomada de decisões autónomas: inteligência. É isso que a combinação entre IoT e IA permite, uma Inteligência Artificial das Coisas (AIoT) que possibilita uma nova era de inovação nas organizações. Foi o tema da 5ª edição da Vodafone Business Conference que decorreu esta terça-feira em Lisboa.
“O valor da IoT cresce quando é combinada com a IA”, afirmou Agata Slater, consultora de transformação de negócio da IBM e uma das oradoras do evento. “A AIoT leva a dispositivos inteligentes e decisões autónomas”, frisou.
Um dos exemplos que a especialista usou foi o da colaboração entre a IBM e a Yara para uma plataforma agrícola digital, a maior do mundo segundo as duas empresas. O sistema, baseado na nuvem, dá aos agricultores serviços digitais e conselhos relacionados com agronomia, com o intuito de aumentar a rendibilidade dos terrenos e evitar a desflorestação. O foco está, inicialmente, em dados meteorológicos relevantes para a agricultora e informações sobre as colheitas, num modelo como-serviço. Mas a intenção é adicionar várias camadas de algoritmos que permitam aos agricultores tomarem melhores decisões.
A questão das decisões é fundamental e, segundo Agata Slater, o surgimento de modelos de IA generativa permitirá dar um salto qualitativo.
“O valor da IoT cresce ainda mais quando mudamos para a IA generativa”, considerou. “O impacto da AIoT generativa será enorme.”
A isto junta-se o potencial de usar blockchain para garantir a inviolabilidade e transparências dos processos. A AIoT não necessita propriamente de blockchain, mas a combinação das três tecnologias tem vantagens inéditas, opinou Agata Slater.
“Há tremendas sinergias entre estas tecnologias”, afirmou, sublinhando que os dados não só são o novo petróleo como agora são “mais valiosos que o petróleo.”
Com a IoT a contribuir para a geração e recolha maciça de dados e a IA a analisá-los de forma inovadora, o blockchain pode facilitar transações transparentes em torno destas informações.
“Este trio vai ajudar com mudanças sociais e de negócio”, vaticinou Agata Slater.
Uma aplicação que o comprova é a recolha de dados de poluição através de pequenos aparelhos transportados por utilizadores ou colocados no exterior de veículos, um projeto em curso na Europa. A aplicação de IA sobre estes dados permite destrinçar a fonte da poluição e o efeito de poluentes extremos, bem como oferecer análise preditiva. O blockchain serve para garantir a fiabilidade do fluxo de informação. E ao nível dos utilizadores, pode haver recompensas pela sua participação no programa. Por exemplo, pontos que podem ser trocados por ofertas.
“É converter o impacto destas tecnologias em oportunidades de negócio e novos modelos.”
Slater enunciou os princípios de uma “Economia das Coisas”, em que dispositivos conectados entre si não só trocam informações mas também completam transações sem intervenção dos utilizadores. Esta é, considerou, a chave para monetizar a AIoT.
Ana Rita Guerra