O desenvolvimento de tecnologias de Inteligência Artificial (IA) pode ter ganho destaque no último ano na vertente de conversação, mas há muitas outras áreas menos visíveis em que a sua implementação tem resultados igualmente notáveis.
É o caso da solução que a Vodafone Portugal testou em laboratório e tem agora a funcionar em todo o país para melhorar a eficiência energética da sua rede, usando algoritmos IA.
“Estamos a falar de uma redução de 20% a 30% do consumo de energia ao longo do dia, o que é bastante relevante”, diz ao Dinheiro Vivo Pedro Santos, diretor de desenvolvimento de rede da Vodafone responsável pelo cluster europeu.
“A grande beleza desses algoritmos é que com alguma facilidade consegue-se prever que entre as 2 da manhã e as 7 da manhã podemos desligar várias camadas de tecnologia mas durante o dia não vamos arriscar”, explica o responsável.
“Estes algoritmos conseguem perceber estas flutuações e vão ligando e desligando, o que se traduz numa redução de energia que está a ser usada e que não é percecionado pelos clientes, porque não estavam a precisar de a usar”, detalha. “Assim que precisem elas ligam automaticamente. Traduz-se numa eficiência energética.”
Isso implica que os fabricantes de rede suportem este tipo de funcionalidades e que estes algoritmos possam correr em tempo real nestes equipamentos. Ou seja, diz Pedro Santos, é um trabalho conjunto entre operadores e fornecedores de tecnologia.
A aplicação de IA não permite apenas maior eficiência energética, mas também uma gestão preditiva da rede que melhora a experiência do utilizador.
“Há algoritmos de IA a correr em tempo real na rede que se apercebem que uma determinada zona da rede está com muito mais tráfego, porque há por exemplo uma manifestação ou um acidente numa ponte”, indica Pedro Santos. “A rede adapta de forma a aumentar a cobertura de uma estação que está mais distante para cobrir essa zona e aumentar a capacidade, distribuir o tráfego entre diferentes tecnologias de uma forma que não estava prevista para diluir melhor o efeito”, continua. “É feito de forma automática 24 horas por dia por algoritmos de IA.”
Seria algo muito difícil de fazer há apenas alguns anos. Como as redes são agora mais complexas, com muito mais parâmetros para configurar, os processos tradicionais de configuração exigiriam um número exponencial de engenheiros para os suportar.
“O engenheiro há vinte anos olhava manualmente para as estatísticas e toda a informação de tráfego que era gerado e número de chamadas caídas de todas as células da rede e depois tomava decisões de otimização a posteriori em função disto”, descreve Pedro Santos. “Ou via que uma zona tinha ficado congestionada e era preciso aumentar a capacidade.” Essa congestão era percecionada pelos clientes – por exemplo, dificuldades em fazer chamadas durante um festival ou jogo de futebol – e depois havia um aumento da capacidade para evitar uma nova situação. “Tudo isto era feito de forma manual e reativa”, lembra. “Demorava mais tempo e traduzia-se numa pior experiência para o cliente porque havia a perceção do problema durante mais tempo.”
Agora, toda a informação é usada e processada por algoritmos de IA que ajudam a tomar decisões na rede.
Foi assim que a Vodafone começou a testar a maximização das poupanças de energia sem afetar a experiência dos clientes.
“Da mesma maneira em que a rede se apercebe de que há mais capacidade numa determinada zona, também se apercebe que a capacidade ou tecnologias instaladas não são necessárias porque já não há clientes a utilizá-las naquela zona, simplesmente porque estamos de noite e os clientes estão a dormir, e portanto faz sentido que os recursos se desliguem, como fazemos com os nossos equipamentos em stand-by.”
Pedro Santos explica que só recentemente foi possível introduzir estas funcionalidades sem que fossem percecionadas negativamente pelos clientes. “O equipamento tem de acompanhar, a capacidade tem acompanhar”, frisa.
As poupanças são muito relevantes, tanto ao nível de custos como de sustentabilidade. “Se pensarmos que num operador de telecomunicações os equipamentos que suportam a rede móvel representam entre 70% a 80% do consumo total de energia, poupar 20 a 30% desta fatia é de facto muito relevante”, sublinha o responsável. “É uma questão de sustentabilidade muito relevante para a Vodafone.”
Ana Rita Guerra