Era impossível falar numa conferência sobre Inteligência Artificial das Coisas (AIot) e Singularidade Tecnológica sem referir o impacto que sistemas como o ChatGPT tiveram no último ano. A ascensão de grandes modelos de linguagem (LLM) e a capacidade geradora de novos conteúdos, desde texto no ChatGPT a imagens no DALL-E ou Midjourney, virou todas as atenções para este segmento particular do vasto campo de Inteligência Artificial. O presidente do INESC, Arlindo Oliveira, considera que os avanços trarão vários benefícios. Mas na sua intervenção durante a Vodafone Business Conference, em Lisboa, alertou para o risco de não perceber os contornos destes sistemas.
“Não usem o ChatGPT como um motor de busca ou uma base de dados. Ele inventa”, frisou o professor do IST. O funcionamento destes sistemas é tão polido e convincente que parece “verdadeira inteligência”, algo que não é exatamente verdade. O seu grande benefício, indicou, será a integração com bases de dados das organizações, algo que permite extrair valor de dados validados.
Arlindo Oliveira lembrou que a IA é a convergência de muitas áreas diferentes e que a aprendizagem automática (machine learning) tem sido particularmente marcante no seu desenvolvimento na última década.
Uma das áreas de maior interesse para as empresas, em especial com a disseminação de IA generativa, é a possibilidade de automatizar tarefas antes conduzidas por trabalhadores humanos.
“Posso substituir pessoas no serviço ao cliente, na condução de veículos, como designers, como escritores de textos, como atores, na área do diagnóstico médico”, exemplificou Arlindo Oliveira. Aos ganhos de eficiência e redução de custos contrapõe-se o problema do desemprego: a IA irá substituir pessoas?
“É um medo antigo”, referiu o professor. “Ainda não aconteceu, mas não quer dizer que não venha a acontecer no futuro.”
Outros desafios sociais relevantes trazidos pela IA super avançada é a possibilidade de que haja uma concentração de poder económico e de decisão em poucas mãos, além de um perpetuar de desvios que já existiam nas bases de dados.
Na versão mais extrema, a de uma IA Geral mais avançada que os humanos, existe o receio de perda de controlo da civilização ou estupidificação da sociedade. “O ChatGPT já está a contribuir para nos tornar estúpidos”, apontou o professor. Essa ideia de IA Geral ou um momento de Singularidade, ressalvou, é uma incógnita. “ Não sabemos se conseguimos chegar lá” disse. “Não sabemos o que temos de fazer para criar um sistema de IA geral.”
O que sabemos é que os avanços feitos até agora também trazem múltiplas vantagens e encontramo-nos num momento único, podendo fazer coisas que eram impossíveis até há bem pouco tempo. Porquê agora? Segundo Arlindo Carvalho, porque temos muito mais dados, as arquiteturas são melhores e os computadores são suficientemente rápidos para processar isto. É uma “revolução de aprendizagem profunda” (deep learning).
O professor disse que há quatro tecnologias essenciais a causarem todo o entusiasmo em torno da IA: redes profundas para visão, grandes modelos de linguagem e transformadores, deep reinforcement learning (do tipo Alpha Go) e modelos de difusão que conseguem gerar texto, imagens, vídeos, som.
“O deep reinforcement learning é extremamente poderoso para decisões comerciais”, disse Arlindo Oliveira.
O professor tocou ainda num dos temas quentes do momento, o da regulação, focando-se na legislação proposta na União Europeia. O AI Act “esqueceu a parte da competitividade e focou-se na segurança”, frisou, considerando que China e Estados Unidos serão muito mais competitivos neste cenário.
Ana Rita Guerra