Imagine que o seu carro elétrico deteta a necessidade de se carregar, identifica a bomba de carregamento e paga a transação diretamente. Não é necessária a intervenção do utilizador e todo o processo ocorre de forma rápida, segura e transparente, com um registo seguro e inviolável. Este é o sonho da Economia das Coisas, que não só permite transações seguras entre dispositivos como permite monetizar outras interações. Foi esse um dos cenários apresentados pela consultora de transformação de negócio da IBM, Agata Slater, durante a 5ª edição da Vodafone Business Conference, em Lisboa.
“Imagine que, sendo dono de um veículo elétrico, este tem agora a capacidade de pagar autonomamente pelo carregamento, sem a sua intervenção”, resumiu a oradora. “Não só é muito conveniente para o condutor, mas também abre oportunidades económicas para os donos dos dispositivos, que podem agora monetizar os seus dados, que de outra forma perderiam valor com o tempo.”
E o consumidor? Com a adição de capacidades de IA, passa a ter acesso a uma série de novos casos de utilização – tais como sistemas autónomos de reservas, seguros automóveis que só cobram os quilómetros feitos ou programas de fidelização válidos entre vários parceiros.
Agata Slater falou de cinco princípios da Economia das Coisas e o primeiro é muito interessante para os consumidores: recompensar a partilha de dados de forma a incentivá-la. Com uma rede conectada de dispositivos, a Economia das Coisas – em que a IA é combinada com IoT e assegurada pelo blockchain – a monetização pode chegar às pessoas.
“As grandes tecnológicas recolhem dados e transformam-nos em receitas. Praticamente nada é partilhado com os utilizadores”, disse a oradora. “Os utilizadores podem agora decidir quantos dados partilham e serem recompensados por isso. É um modelo de negócio possível.”
Outros princípios passam por ter regras transparentes sobre a partilha de dados; descentralizar plataformas e garantir a interoperabilidade dos ecossistemas de dados.
Um exemplo disto é a Digital Asset Broker (DAB), plataforma desenvolvida pela Vodafone que permite a autenticação segura de dispositivos para que possam fazer transações autónomas entre si.
“A IoT e a IA têm impulsionado a automação recentemente”, afirmou Slater. “O crescimento é ainda maior quando combinado com blockchain.” Isso torna tanto a IoT como a IA “mais transparentes e passíveis de rentabilização.”
Com sala cheia na Fundação Oriente e recorde de participação, o tema da conferência foi “Inteligência Artificial – Do lado certo dos negócios.” O CEO da Vodafone, Luís Lopes, salientou o poder da inovação não só para melhorar os negócios das empresas mas com um papel global mais abrangente.
“Na Vodafone, vemos a tecnologia como uma parte integrante para superarmos os desafios comuns da sociedade e do planeta, menos desigualdades e maior sustentabilidade ambiental”, disse o CEO. “Ambicionamos também ser catalisadores deste processo de transformação da economia portuguesa.”
Há várias formas de usar IA para esses fins e Arlindo Oliveira, presidente do INESC, abordou algumas na sua apresentação. O professor do IST sublinhou a importância da analítica, que continua a ser crucial.
“A ideia é que através da coleção, organização e disponibilização de dados posso ter ganhos de eficiência nas empresas, ganhos nas vendas através de marketing e na logística através da otimização de processos”, referiu. “Este valor está acessível para cada empresa, que deve ter um conhecimento o melhor possível do seu cliente.”
A novidade é poder aplicar aqui ferramentas de IA. “A analítica é fundamental, mas a verdade é que o deep learning permite colocar em cima dela novas funcionalidades que até agora eram impossíveis.”
O segredo, segundo Arlindo Oliveira, é a combinação dos novos sistemas com as bases de dados próprias das empresas. O que torna útil um grande modelo de linguagem (como o que criou o ChatGPT) é a sua integração vertical.
“Isto vai ter um enorme impacto”, frisou. “Vão responder com desempenho e precisão e mais rápido que um profissional.”
No entanto, o professor alertou para a necessidade de não confundir o poder destes modelos de geração e difusão. “Estas coisas parecem verdadeira inteligência”, disse, mas na verdade não o são.
“Não usem o ChatGPT como um motor de busca ou uma base de dados. Ele inventa.”
Benedict Evans também falou disso. “Quando usar estes sistemas, deve ter consciência de eles não estão a fazer o que parece que estão a fazer.”
Ana Rita Guerra