A economia do sul da Europa vai beneficiar mais da adoção da Inteligência Artificial nos próximos sete anos que a região norte, em termos percentuais, segundo uma análise da consultora PwC. O estudo “Global Artificial Intelligence Study: Exploiting the AI Revolution” aponta para um crescimento de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no sul da Europa, ou 700 mil milhões de euros, durante os próximos sete anos. É uma subida acima dos 9,9% que se prevê para o norte da Europa, embora os números absolutos sejam maiores – 1,7 biliões de euros.
As diferenças de impacto nas várias regiões estão relacionadas com os níveis de produtividade no ponto de partida, a maturidade do mercado e a taxa de adesão por parte das empresas.
Os aumentos de produtividade estão no centro das vantagens da adoção de tecnologias IA nas empresas, o que beneficia países com níveis mais baixos de produtividade como Portugal.
“No curto prazo, a maior subida ligada à IA deverá vir da melhoria da produtividade”, lê-se no relatório. “Isto inclui a automação de tarefas rotineiras, o aumento das capacidades dos trabalhadores e a sua libertação para se focarem em tarefas mais estimulantes e trabalho com mais valor acrescentado”, continua. As melhorias de produtividade laboral vão ser responsáveis por 55% do aumento do PIB até 2030.
A pesquisa indica que sectores que exigem muito capital, como a manufatura e transportes, verão os maiores ganhos de produtividade, visto que muitos dos seus processos operacionais são bastante susceptíveis de serem automatizados.
“O impacto na produtividade pode ser completamente transformador”, estabelecem os autores. “As empresas que falharem na adaptação e adoção podem encontrar-se rapidamente prejudicadas nos prazos de entrega e de custos”, avisam. “Arriscam perder uma parte significativa da sua quota de mercado.”
A análise da PwC conclui que a IA poderá contribuir com até 14,8 biliões de euros para a economia global em 2030, mais do que a produção atual da China e da Índia combinadas.
“O que fica evidente na análises que realizámos para este relatório é quanto a IA será uma mudança de jogo e quanto potencial de valor está disponível”, sublinham os autores. “Deste montante, 6,2 biliões de euros serão provenientes do aumento da produtividade e 8,6 biliões de euros serão provenientes de efeitos colaterais do consumo.”
Isto reflete um aumento de 14% do PIB global. Os autores identificam três principais motivos para o avanço: ganhos de produtividade pela automação de processos, incluindo uso de robôs e veículos autónomos; ganhos de produtividade pelo aumento das capacidades dos trabalhadores com o que chamam de Inteligência assistida e aumentada; e uma maior procura dos consumidores que resulta da disponibilização de produtos e serviços personalizados de muita elevada qualidade.
Um dos aspetos interessantes desta pesquisa é que a PwC chega a estes números não pela via da previsão, mas de um cálculo preciso, usando um modelo dinâmico da economia global em larga escala. O modelo é baseado no Global Trade Analysis Project (GTAP), que detalha o tamanho de 57 sectores económicos em 140 países e como transacionam entre eles através das cadeias de fornecimento.
Em termos de sectores, o estudo identifica o retalho, serviços financeiros e saúde como aqueles onde a produtividade, qualidade do produto e consumo mais beneficiarão da adoção destas tecnologias. Há um destaque também para o segmento automóvel, com o advento de frotas autónomas, assistência ao condutor e manutenção preditiva e autónoma.
No retalho, os maiores benefícios serão no design e produção personalizados; antecipação da procura dos consumidores – por exemplo, a PwC aponta que há retalhistas já a usar ‘deep learning’ para prever encomendas em antecipação; e gestão de inventário e entregas.
Em termos de serviços financeiros, o grande potencial é no planeamento financeiro personalizado, deteção de fraude e mecanismos anti-lavagem de dinheiro e automação de processos.
E na saúde, onde a disrupção está pronta para acontecer, os segmentos com maior potencial são o apoio a diagnóstico, como a deteção de pequenas variações nos dados dos pacientes o longo do tempo; deteção precoce de potenciais pandemias, com monitorização da incidência para conter a disseminação; e diagnóstico de imagiologia.
No total, a análise da PwC identificou cerca de 300 casos de utilização da Inteligência Artificial aplicada aos negócios com potencial para melhorar de forma substancial a produtividade, eficiência e rentabilidade das empresas.
O relatório aborda um dos pontos mais delicados e controversos da revolução da IA: a destruição de empregos. Tal como outras pesquisas, o estudo reconhece que haverá um impacto negativo em vários tipos de empregos.
“A adoção de tecnologias sem intervenção humana significa que haverá postos de trabalho que vão inevitavelmente tornar-se redundante”, escrevem os autores, “mas outros serão criados pelas mudanças na produtividade e aumento da procura emanante da IA, e através da própria cadeia de fornecimento da IA.”
Segundo a consultora, além de novos tipos de trabalhadores, que vão focar-se no pensamento criativo sobre como a IA pode ser desenvolvida e aplicada, surgirá a necessidade de um novo grupo de profissionais: pessoas encarregadas de construir, manter, operar e regular estas tecnologias emergentes. “Por exemplo, vamos precisar do equivalente dos controladores aéreos para controlar os veículos autónomos na estrada”, referem os autores.
Também serão criados empregos em áreas como entregas no próprio dia, empacotamento robótico e organização de armazéns. “Tudo isto facilitará a criação de novos empregos que não teriam existido num mundo sem Inteligência Artificial.”
CUPERTINO, CALIFORNIA - SEPTEMBER 12: The new iPhone 15 is displayed during an Apple event at the Steve Jobs Theater at Apple Park on September 12, 2023 in Cupertino, California. Apple revealed its lineup of the latest iPhone 15 versions as well as other product upgrades during the event. Justin Sullivan/Getty Images/AFP (Photo by JUSTIN SULLIVAN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)