Automatizar processos, tomar melhores decisões, reduzir custos, reforçar a segurança da rede, fazer em dias o que antes se fazia em semanas ou meses. Estes são alguns dos resultados possíveis da aplicação de Inteligência Artificial aos processos de negócio, com recursos cuja acessibilidade era quase inexistente há apenas alguns anos. Foi o tema central da Vodafone Business Conference, que regressou a Lisboa para uma quinta edição com inscrições esgotadas.
“Não é uma conferência de tecnologia, é uma conferência que tenta explicar como é que a tecnologia pode ser utilizada para melhorar e trazer resultados nos negócios”, disse ao Dinheiro Vivo Filipe Isidoro, head of commercial management da Vodafone Portugal, que esteve por detrás da organização. O gestor referiu que esta foi a segunda edição da conferência dedicada à IA e que refinou os temas da anterior, que aconteceu há quatro anos. “No fundo, estamos a trazer a Inteligência Artificial agora para meios mais objetivos, mais concretizados”.
Esse foi o âmbito da apresentação de Agata Slater, consultora de transformação do negócio da IBM que apresentou ideias concretas de como a aplicação de IA e a sua combinação com duas outras tecnologias – Internet das Coisas e blockchain – pode dar origem a mercados completamente novos.
“A IA e a IoT têm um excelente encaixe tecnológico”, afirmou a consultora. Mas a maioria dos dados gerados e recolhidos na IoT existe em silos isolados e proprietários, referiu, e isso significa que há um desaproveitamento de informação valiosa. Por exemplo, uma máquina de café inteligente pode gerar dados interessantes sobre os seus utilizadores, mas sem ligação a outros dispositivos, o perfil torna-se limitado.
Além disso, o dono dos dados habitualmente não é compensado pela sua partilha. “A abordagem em silos resulta numa oportunidade económica perdida”, frisou Slater. Em contraposição, uma rede segura de dispositivos conectados – que alavanca os dados da IoT com o poder da IA e garante fiabilidade com blockchain – permite monetizar a AIoT com a Economia das Coisas.
Uma plataforma que concretiza os elementos necessários para esta Economia das Coisas é a Digital Asset Broker (DAB), que está a ser desenvolvida pela Vodafone em Portugal. No centro do processo está um cartão SIM embebido numa carteira digital e integrado com software, que facilmente se conecta à DAB. A partir de uma autenticação segura, dá aos dispositivos conectados a possibilidade de fazerem transações comerciais, começando por carros elétricos em estações de carregamento.
“A DAB precisa de acolher diferentes operadores na plataforma”, indicou Slater. “Se forem recolhidos dados suficientes isto pode levar a muitos outros serviços para os consumidores.” Quando o carro elétrico paga pelo carregamento diretamente, o utilizador pode receber informação sobre preços de eletricidade definidos em tempo real ou o melhor planeamento de rotas naquele momento. E também, em potencial, compensação em troca dos dados partilhados.
“São dois objetos a transacionarem entre as próprias carteiras”, sintetizou Mafalda Alves Dias, diretora de grandes contas e sector público da Vodafone, em entrevista à margem da conferência. “Isto é uma plataforma nova que estamos a desenvolver a partir de Portugal para o grupo”.
E Portugal mostra cada vez mais apetência por este tipo de soluções. “Temos verificado um interesse crescente por parte das empresas portuguesas”, confirmou Filipe Isidoro.
“Hoje em dia toda a gente fala da Inteligência Artificial, principalmente por causa dos modelos de IA generativa, e o que estamos aqui a trazer é uma perspetiva nova de juntar a IA à IoT de forma a tirar partido das duas coisas”, referiu. “Usar a Inteligência Artificial para tomar as melhores decisões e usar a IoT como fontes de dados que podem ser usados pela IA.”
Com soluções à medida, o responsável acredita que “é possível conjugar as duas e dessa forma contribuirmos para que estas empresas tenham soluções cada vez mais sofisticadas e melhores utilizando os seus dados e a Inteligência Artificial.”
Por outro lado, a mensagem é de que “já é possível tirar muitas vantagens da Inteligência Artificial nos negócios” e isso não se trata de algo futurista. O professor Arlindo Oliveira, presidente do INESC e um dos oradores, lembrou na conferência que estes desenvolvimentos começaram há 70 anos. A questão é que nunca se conjugaram tantos elementos para permitir o avanço a que estamos a assistir hoje.
“Toda a IA moderna, desde o ChatGPT ao Alpha Go aos sistemas que geram imagens como o papa com casaco branco são feitos com redes neuronais”, disse Arlindo Oliveira. “Estamos a otimizar funções que têm centenas de milhares de milhões de variantes.”
Porquê agora e não há dez anos, na primeira vaga de aprendizagem automática? Porque a capacidade dos computadores aumentou exponencialmente, há uma geração maciça de dados e as arquiteturas permitem-no.
O professor, que falou dos desafios levantados pela IA – desde o impacto no mercado de emprego às bolhas de desinformação e à possibilidade de criar uma superinteligência superior aos humanos – também se focou nos efeitos mais pragmáticos para os negócios e por onde as empresas podem começar a pensar nisto.
“Apesar de todo o entusiasmo que há pela aprendizagem profunda no último ano, em particular, não devemos esquecer que a analítica é uma componente essencial do negócio”, afirmou. “É uma alavanca essencial para extrair o maior valor possível dos produtos e serviços que oferecemos.”
Ana Rita Guerra