Quais são os objetivos que pretendem alcançar com esta edição da Vodafone Business Conference?
Ao longo dos últimos anos, a Vodafone Business faz uma conferência sobre um tema que esperamos que venha a ter impacto nos negócios. Não é algo que tenha de ser disruptivo amanhã, é algo que vai sendo disruptivo ao longo do tempo e queremos desde já chamar a atenção dos empresários e dos responsáveis pelas empresas para que atentem nessa tecnologia e nessa oportunidade e queremos fazê-los pensar sobre o impacto que esse tema pode ter no seu negócio.
Foi por isso que escolhemos a Inteligência Artificial. Não sendo um tema novo, porque já há muitos anos que se discute a IA, recentemente e muito por via do ChatGPT ganhou aqui uma preponderância grande na sociedade, nos media, na comunicação. É algo que cada vez mais as pessoas querem saber como funciona, o que é, para que serve a Inteligência Artificial.
Daí a exploração da AIoT, uma combinação com a Internet das Coisas?
Temos falado sobre o IoT, os sensores, sobre a importância de as empresas medirem a sua eficácia ao longo da cadeia de produção e dos seus negócios, de ter esta informação, e agora vamos casar as duas coisas. Era importante medir e obter a informação; a Inteligência Artificial vai-nos ajudar a tornar essa informação algo que pode ajudar à gestão e ao fazer um tratamento de dados ajudar a que as empresas consigam integrar essas conclusões na automatização dos processos, na modernização da indústria, na melhoria da qualidade do trabalho.
Como nós Vodafone somos líder na área do IoT, temos 170 milhões de ligações por IoT todos os dias nas plataformas em que operamos ao longo das geografias onde estamos, queremos utilizar esta conferência para reforçar a importância que o IoT e os dados têm quando ligados com a Inteligência Artificial e a forma como o 5G vai ajudar a potenciar tudo isto.
É um tema que têm discutido com os clientes?
Este tema da Inteligência Artificial é algo que discutimos com os nossos clientes, com os nossos amigos, familiares, está cada vez mais na sociedade. Quando o Google diz que aumentou o número de pesquisas sobre IA mais de 500%, mostra bem o interesse que isto tem.
Nós discutimos este tema com os nossos clientes mas mais do que isso discutimos os desafios que os clientes têm, as soluções e os serviços que podemos ter para esses desafios, as tecnologias que podem ajudar a resolver e como é que os enablers de comunicação como o 5G podem ajudar a resolver tudo isso.
Com todas estas componentes, as empresas podem definir a sua estratégia digital e como é que cada uma destas componentes pode ajudar na digitalização da sua empresa.
Há um grande interesse na IA generativa. Como se traduz isto em vertentes concretas de negócio?
O melhor exemplo que posso dar é o dos chat bots. Há uma série de tarefas que são muito repetitivas, em que a criatividade humana gera pouco valor, e eu diria que são ótimos exemplos onde a IA generativa pode adicionar valor.
Quando um cliente liga para a Vodafone para saber quando é que tem de pagar a sua conta ou qual a entidade-referência que deve usar, não há valor nenhum em ser um ser humano a dar essa informação. É algo que podemos automatizar e ter um assistente virtual a dar essa informação.
Há sectores que podem beneficiar mais desta implementação?
Há, claramente. Tudo aquilo que tem a ver com agricultura, indústria, sectores produtivos, transformação, saúde.
Também podemos pensar em exemplos mais complexos, como a arrumação de carga num armazém. Muito recentemente, fizemos uma prova de conceito da utilização de IA e 5G com o Porto de Aveiro.
Quais são as principais vantagens?
O Porto de Aveiro identificou várias vantagens e uma delas foi o tempo: toda a operação era mais rápida. Uma outra vantagem era o consumo de combustível das empilhadoras, o que também é bom em termos de sustentabilidade e ambiente. Depois, se há maior rapidez nos processos significa que as pessoas que estão a ter estas tarefas têm mais tempo para fazer outras coisas. Temos melhor capacidade de decisão, porque se conseguimos analisar toda a informação e interpretá-la em tempo real mais depressa, conseguimos tomar melhores decisões e mais rápidas, o que nos permite poupar tempo para fazermos outras coisas.
A questão da produtividade, da previsibilidade, o tema da sustentabilidade com a melhor utilização dos recursos, melhor eficiência energética e redução de desperdícios é um conjunto de vantagens que identificamos nos casos de utilização que estamos a implementar e a apresentar aos nossos clientes.
E do outro lado, quais as desvantagens?
Como em tudo na vida, há riscos. Há preocupações naturais em garantir o controlo humano sobre o processo, nós próprios na Vodafone temos políticas internas sobre a utilização da IA nos nossos desenvolvimentos de produto. A parte da informação é muito importante de forma a mitigar esses riscos e uma das coisas que verificamos é que, se está uma pequena fração das indústrias a usar IA, também é verdade que há uma pequeníssima fração dos trabalhadores dessas indústrias que já foram treinados para trabalhar com IA.
Isso é algo que faz parte das preocupações, preparar as pessoas e formá-las sobre como é que isto deve ser utilizado.
Pegando no exemplo do Porto de Aveiro, desde o primeiro dia tivemos essa preocupação em formar as pessoas sobre como esta tecnologia deve ser utilizada. Não é por acaso que o título da conferência é Inteligência Artificial – Do lado certo dos negócios. Há esta preocupação em podermos utilizar a IA da melhor forma.
As empresas portuguesas têm acelerado estes projetos e a transformação digital que se impõe?
Objetivamente, quando olhamos para as empresas portuguesas, vemos que há desafios enormes para avançarem no seu esforço de digitalização. Vemos que há muitas empresas que veem a digitalização como um custo e não como um investimento que pode ser recuperado até no curto prazo.
Vemos que há ainda muito desconhecimento, muita falta de informação, dificuldade em percecionar a utilidade da digitalização dos processos, da sensorização, da análise da informação.
De acordo com o Digital Intensity Index, de 2022, em Portugal só 5% das empresas têm um índice de intensidade digital muito alto. Pouco mais de um terço, 35%, têm um nível alto ou muito alto – este valor está alinhado com a média europeia, 32%.
A nossa estratificação das empresas em Portugal é suportada em pequenas e médias empresas e em micro empresas. Estas são precisamente as que têm menor intensidade digital quando comparadas com as grandes empresas.
As empresas que podem beneficiar mais da digitalização são das indústrias transformadoras, sector produtivo, indústria. São identificadas como tendo menor intensidade digital.
Mais de 90% das empresas portuguesas são micro ou pequenas e médias, que são aquelas que têm menos intensidade digital, provavelmente porque têm mais falta de recursos para fazer este caminho.
Há um longo caminho a fazer e nós Vodafone em Portugal temos perfeita noção.
O Índice de Digitalidade da Economia e Sociedade mostra que as empresas portuguesas estão abaixo da média europeia em tudo o que tem a ver com cloud, big data, e-commerce, utilização de sites.
Quando olhamos para fontes nacionais como o INE, também nos diz que as empresas portuguesas que utilizam a Internet das Coisas ainda estão abaixo dos 25%. Apesar de 7% das empresas usarem robôs industriais na indústria e energia, são só 7%. Mostra bem que há aqui um longo caminho a percorrer.
E onde há maior intensidade?
Eletricidade e água é uma das áreas onde temos mais soluções na parte da sensorização, IoT. Isto porque tanto em empresas municipais de tratamento das águas como empresas do sector privado, o tema da energia e da água principalmente durante o covid teve um desenvolvimento enorme. Sentimos que houve maior apetência de empresas por fazer investimentos nesta área.
Significa sensorizar as suas fábricas ou alguns dos seus processos produtivos de forma a poder controlar as perdas de água ou a gestão energética de uma forma sustentável, tendo em conta os custos de energia, que atingiram durante a pandemia níveis estratosféricos.
Como se encaixa aqui o investimento no 5G?
O 5G é para a Vodafone é a oportunidade que temos de continuar a desenvolver a nossa componente de comunicação por forma a endereçarmos desafios que os nossos clientes já têm. O 5G vai permitir não só velocidades mais rápidas, superiores a 1 Gigabit por segundo, como vai ter também latências muito superiores àquelas que temos no 4G. Isto significa que, entre dar um comando e haver uma resposta é múltiplas vezes um piscar de olho.
Quando temos estas duas características e ao mesmo tempo conseguimos dentro do 5G gerir até um milhão de sensores por quilómetro quadrado, estão reunidas as condições que eram necessárias para sensorizar e digitalizar por exemplo uma fábrica.
As tecnologias anteriores tinham limites muito inferiores, quer no número de sensores que era possível gerir quer na velocidade quer na latência.
A partir do momento em que se consegue, com a tecnologia 5G, ultrapassar estes limites, estamos a aumentar a capacidade de digitalizar, de gerar informação e tratá-la em tempo mais rápido e de uma forma mais segura e fiável, porque as redes 5G permitem por exemplo redes privadas, que é uma das coisas que apresentámos nos exercícios da NATO e da marinha portuguesa ou que fizemos no Porto de Aveiro.
Como é que encaram a incerteza? Olhando para o AI Act da União Europeia, por exemplo?
Temos que ver o que é que vai ficar definido. Nós percebemos as preocupações, na Vodafone temos a nossa própria política e os nossos controlos para garantir que estamos a utilizar a IA de forma responsável e que proteja a sociedade.
Estamos a utilizar estas regras que permitem, por exemplo, evitar o enviesamento das análises, temos estas regras como fundamentais no desenvolvimento das nossas ações nesta área.
Sabemos da legislação que está a ser discutida na Europa e é muito centrada nas pessoas. Vamos ver o que isso significa, mas aquilo que nós antecipamos vai em linha com as políticas que já definimos dentro de casa. Todas essas preocupações éticas estão subjacentes àquilo que estamos a fazer. Estamos bastante confiantes que as decisões que vão ser tomadas estão em linha com a nossa própria abordagem e postura no mercado.
Ana Rita Guerra e Ana Maria Ramos