Qualquer que seja o mercado ou sector de atividade, tornou-se impossível para as empresas ignorarem o enorme entusiasmo em torno das tecnologias de Inteligência Artificial, em especial no último ano. É no contexto desta vaga de crescimento que a quinta edição da Vodafone Business Conference, marcada para 03 de outubro na Fundação Oriente, em Lisboa, vai debruçar-se sobre as implicações destes desenvolvimentos para as empresas portuguesas e possíveis caminhos para o futuro. De acordo com Carlos Santos, diretor de Big Data e Advanced Analytics na Vodafone Portugal, tudo começa nos dados.
“As empresas percebem que, com a digitalização da economia, passaram a ter um imenso valor de dados”, diz o responsável ao Dinheiro Vivo. “Está a haver um trabalho muito grande das empresas para guardarem o máximo possível mas depois também terem mecanismos para trabalharem estes dados.”
É aqui que as tecnologias de Inteligência Artificial – que o especialista qualifica de “disciplina muito vasta e abrangente” – permitem dar um salto exponencial, tanto na organização como na utilização dos dados armazenados.
“Há muitas aplicações em que a IA ajuda na normalização, limpeza dos dados, standardização”, refere Carlos Santos.
A questão da qualidade, indica, não pode ser desvalorizada porque faz parte integral do processo.
“A qualidade dos dados é algo que está inerente ao cientista de dados, ao praticante de IA”, sublinha. “Os dados são a matéria-prima que alimenta o mecanismo de IA.”
Ou seja, não basta implementar aplicações avançadas sem garantir a qualidade dos dados, algo que deve fazer parte do processo por defeito.
“Se tenho um modelo de IA que vai dar regras que dependem dos dados que lhe dou e os dados não foram validados e escrutinados de uma forma muito rigorosa, as regras e o conhecimento que vou obter por análise desses dados vão ser deturpados”, frisou Carlos Santos. Um sistema alimentado por maus dados vai devolver resultados deficientes.
Por outro lado, explica o responsável, a adoção de aplicações de Inteligência Artificial não deve ser feita de forma avulsa ou isolada, sem levar em consideração as especificidades da organização.
“O especialista de IA precisa sempre de um especialista de negócio para o guiar”, afirma
Carlos Santos. “Tem de ter alguém que conhece bem o negócio”, não sendo apenas uma questão de conhecimento técnico.
“Pode ser muito bom a saber como funcionam os algoritmos de reconhecimento de imagem, mas se quiser resolver um problema tem de garantir que recebe imagens corretamente classificadas”, exemplifica. “A qualidade dos dados parte do princípio que tenho parceiros de negócio que trabalham com um especialista de IA e que este é um trabalho multidisciplinar.” Em paralelo, os algoritmos podem ajudar também a compreender melhor o negócio.
Cautela e validação dos resultados da IA
Esta não é uma questão nova, mas continua a requerer atenção: podem surgir problemas que não estão relacionados com a qualidade dos dados mas com questões éticas. “Há defeitos que vêm da realidade, como os preconceitos, e é preciso trazer mais harmonia e justiça ao mundo artificial”, sublinha. “Há uma necessidade permanente de fazer escrutínio ao output.”
Segundo o executivo, esta noção leva a Vodafone a ser “muito cautelosa” com a forma como utiliza os resultados dos modelos de Inteligência Artificial que desenvolve. A operadora tem uma equipa de privacidade e uma equipa legal que acompanham o processo e os desafiam para não se deixarem guiar cegamente por tomadas de decisões sem o cuidado de escrutínio ao resultado dos modelos.
“Na Vodafone há muita sensibilidade para contrariar um preconceito que possa ter sido herdado dos dados reais”, indica Carlos Santos.
Esse é um risco que as empresas e os utilizadores individuais correm, em especial numa altura em que sistemas de IA generativa produzem conteúdos com aparência de enorme qualidade.
“Pode cair na tentação de dizer, ok o algoritmo recomenda por isso não tenho necessidade de validar.” É um risco, alerta o especialista, já que a supervisão humana acaba por ser sempre necessária.
“Temos que alertar estes utilizadores que vão iniciar esta jornada que têm que validar e muito”, refere. “O processo de validação daquilo que a máquina produz tem que ser muito escrutinado”, continua, “colocado na mão dos especialistas que produziram os conteúdos que serviram como input para que eles tenham uma opinião crítica e se é válido ou não.”
É um processo similar à publicação de avanços científicos, indica: quando os cientistas produzem papers, estes são escrutinado entre os pares antes da submissão para publicação.
Ou seja, pode ser colocado em modo automático apenas depois de validado pelo fator humano.
“Inteligência Artificial – Do lado certo dos negócios” é o tema da próxima edição da Vodafone Business Conference, que acontece em Lisboa na próxima terça-feira e tem inscrições gratuitas aqui.
Ana Rita Guerra