O CEO Cristóvão Cleto é um dos oradores convidados para a Vodafone IoT Conference, que decorre em Lisboa na próxima semana
A ideia surgiu há seis anos, numa noite de Coimbra, mas o produto inicialmente criado já não está à venda. Foi apenas a faísca que deu origem à Crossing Answers, um estúdio digital que usa tecnologias de ponta para criar projetos inovadores. A mais recente ambição é a Luope, uma startup controlada pela empresa que promete revolucionar o mercado das máquinas de vending. É sobre esta inovação que o CEO Cristóvão Cleto vai falar na Vodafone IoT Conference, que acontece na próxima semana em Lisboa. “Desenvolvemos uma peça de hardware que se liga às máquinas de vending e consegue retirar e enviar informações”, explica o responsável, que será um dos oradores no painel de retalho da conferência. “Isto permite que, através da plataforma que nós desenvolvemos, um empresário do vending tenha acesso a toda a informação e controlo absoluto das suas máquinas.”
Em Portugal, diz o responsável, há um número interessante de empresários de vending. Tipicamente, cada um tem 100 máquinas, mas a maior empresa do segmento gere seis mil. O sistema que a Crossing Answers desenvolveu na Luope tem conectividade Wi-Fi e GSM, que envia e recebe dados de um sistema central. “Permite desde uma gestão de stock inteligente a rotas inteligentes, saber quanto dinheiro tem a máquina ou se está avariada”, indica Cristóvão Cleto. Os dados geram guias automatizadas todas as manhãs, orientando a distribuição de produtos e permitindo grandes poupanças em recursos humanos, combustível, stock estragado e stock em armazém. “É revolucionário neste negócio. Não há nada a nível internacional do género, nenhuma proposta tão integrada.”
A equipa desenvolveu em paralelo um sistema de faturação, homologado pelas Finanças, e o produto está neste momento a entrar no mercado nacional, sendo que o intuito é internacionalizar o Luope. O primeiro parceiro é uma empresa de Coimbra que tem 600 máquinas. “Ninguém tem muita noção, mas o vending é um negócio que fatura muito e é um negócio complicado”, diz o CEO. “Há sempre desconfiança entre o patrão e o colaborador; o patrão tem medo que o colaborador esteja a roubar umas moedas, o colaborador tem medo que desconfie dele.” O sistema adiciona transparência e põe estes problemas de lado. Com componentes vindos da Ásia, o hardware é todo montado em Coimbra e o financiamento veio de capital de risco nacional, que investiu 120 mil euros em troca de 15% do Luope. Além disso, há um plano de internacionalização que ronda os 180 mil euros e terá apoio de 45% por parte do Portugal 2020. A intenção é entrar no mercado espanhol ainda este ano e em 2019 endereçar mais mercados internacionais.
Caldeirão de ideias novas
O produto IoT desenvolvido para máquinas de vending insere-se numa das divisões da Crossing Answers, que surgiu há seis anos com uma ideia semelhante. “Começou com uma ideia de um sócio meu, que estava para comprar tabaco numa noite de Coimbra. Estava uma fila enorme, ele tinha o cartão de cidadão na mão e lembrou-se que se calhar fazia sentido as máquinas terem um leitor de cartão de cidadão, visto que tem lá a idade.” A startup desenvolveu um dispositivo que se ligava às máquinas e que entretanto deixou de vender, concentrando-se noutras áreas de oportunidade. O grande salto foi dado com o desenvolvimento de software para a rede de castelos e muralhas, passando por soluções de experiência multimédia para museus, fundações, aplicações, mesas digitais e 3D. “Com estes projetos fomos conseguindo lucro”, diz. “Financiámo-nos com os clientes para criarmos os próprios produtos.”
A Crossing tem agora cerca de vinte pessoas e uma equipa jovem, com uma média de idades que ronda os 25 anos. “Temos três grandes áreas: conceção própria de produtos, de onde vem o Luope, também estamos a criar o jogo HoverShook que tem ganho alguns prémios, e uma área em que desenvolvemos software para startups e para empresas”, descreve o executivo. É uma diversidade grande de capacidades, que denota o perfil inovador da equipa. O HoverShook, por exemplo, estará pronto para sair em 2019 e vai para as consolas PlayStation e Xbox e para computador. Esta versatilidade da empresa será usada na internacionalização para a Europa, em regime de serviços de criação nearshore. O projeto de 70 mil euros avança já este ano (também com 45% de ajuda do Portugal 2020) e a aposta irá centrar-se no Reino Unido, Alemanha e França. “Em Portugal os salários são mais baratos, por isso é competitivo para empresas inglesas, alemãs e francesas contratarem em Portugal”, explica Cristóvão Cleto. “A margem é mais atrativa, os projetos são mais caros com o mesmo trabalho, e é interessante não estar só dependente do mercado nacional.”
Ana Rita Guerra