Lâmpadas com ligação wi-fi, campainhas inteligentes, máquinas de café conectadas, assistentes virtuais capazes de controlar tudo com simples comandos de voz: a Internet das Coisas (IoT) já contabiliza uma base instalada de 20,35 mil milhões de dispositivos, de acordo com dados da Statista para 2017, e foi um dos principais temas abordados na maior feira tecnológica do ano, CES 2018. Agora, um novo relatório da consultora Research and Markets prevê que o mercado da IoT cresça de 170,57 mil milhões de dólares em 2017 para 561,04 mil milhões em 2025. É um ritmo anual de 26,9%, impulsionado pelos avanços em técnicas de analítica e processamento de dados – essenciais para extrair padrões dos volumes de dados recolhidos das comunicação entre aparelhos. Não apenas dispositivos domésticos, que ajudam o consumidor a controlar a sua casa, mas especialmente sensores e aparelhos aplicados à indústria, manufatura, cidades inteligentes, carros autónomos e várias outras áreas de relevo. Por exemplo, sensores colocados nos parques de estacionamento para perceber tendências e introduzir melhorias no planeamento ou preços diferenciados; aparelhos que medem o ruído em certas zonas da cidade, em tempo real; semáforos inteligentes que se adaptam ao trânsito e às condições meteorológicas; sensores colocados no cimento das pontes para monitorizar a sua evolução ao longo do tempo.
De acordo com o estudo, divulgado este fim de semana pela Research and Markets, “a analítica e processamento de dados são úteis nos ambientes de IoT para aumentar o tempo de atividade dos aparelhos inteligentes, acelerar os resultados de negócio e detetar e controlar os erros.” Os números da consultora aproximam-se daqueles que já tinham sido revelados pela GrowthEnabler & MarketsandMarkets, cuja expectativa é de que o crescimento anual do mercado seja de 28,5% para atingir 457 mil milhões em 2020.
Há quase vinte anos que se fala em Internet das Coisas, mas só agora se vê uma verdadeira explosão deste ecossistema. A IoT foi um dos temas em foco na feira CES 2018, com várias vertentes em exposição: da sua importância na construção das cidades inteligentes do futuro aos investimentos de todo o tipo de empresas, desde gigantes como Samsung e LG a pequenas startups, numa estratégia de conexão global dos seus aparelhos e eletrodomésticos. O fenómeno que está a permitir a solidificação deste ecossistema é a massificação de assistentes virtuais alimentados a inteligência artificial, com Alexa da Amazon e Assistant da Google à cabeça, dando a empresas terceiras a capacidade de tornar os seus aparelhos conectados verdadeiramente parte de uma matriz doméstica inteligente.
“A CES é a plataforma global onde se podem ver as tecnologias que são ingredientes críticos e compreender melhor a forma como estão interconectadas, oferecendo uma visão mais clara das inovações de hoje e do caminho futuro”, afirma Gary Shapiro, CEO da Consumer Technology Association (CTA) que organiza o evento em Las Vegas. Este ano, a CTA adicionou um grupo de conferências dedicado às cidades inteligentes, a track Smart Cities, onde inclusive a câmara municipal de Cascais foi convidada a participar para contar a sua experiência. O vice presidente da CMC, Miguel Pinto Luz, explicou alguns dos projetos mais emblemáticos da cidade: o CityPoints, o MobiCascais e o orçamento participativo.
“Nós vemos os nossos cidadãos como clientes. Hoje em dia temos uma grande desconexão entre os eleitores e os eleitos”, disse o governante, no painel de debate. “Estamos a usar o conceito de cidade inteligente para preencher essa lacuna. queremos co-criar a nossa cidade com os cidadãos.” As iniciativas estão a ser financiadas através de parcerias público-privadas.
“Precisamos de infraestrutura, sensores e Internet das Coisas. O financiamento durante uma crise está a ser procurado no sector privado”, disse. “Se quiser construir um novo posto de combustível, tem de co-investir em sensores de medição do impacto ambiental. Partilhamos o risco com o sector privado, para crescer a inteligência e a rede.” De acordo com o estudo da GrowthEnabler & MarketsandMarkets, as cidades inteligentes serão o maior sub-segmento no mercado de Internet das Coisas, representando 26% do investimento. Seguem-se a IoT aplicada à indústria (24%) e os dispositivos de saúde conectados (20%).
“5G, Internet das Coisas e Inteligência Artificial são a fundação sobre a qual assentarão as cidades inteligentes e sustentáveis”, declarou Gary Shapiro na keynote da CTA. Só este ano nos Estados Unidos, a associação projeta que a venda de dispositivos conectados cresça mais de 6% para 715 milhões de unidades. Também prevê que 20% da população mundial tenha acesso a 5G nos próximos cinco anos, o que abrirá as portas a muitos dos cenários IoT que estão a ser preparados. “O 5G oferece maior capacidade, mais velocidade e menor latência” disse Shapiro. “Esta tecnologia será o catalisador para o crescimento e vai mudar indústrias, da saúde à educação e desporto”, considerou. “Será 100 vezes mais rápido que as redes de hoje.”